Aí você pensa que já se conhece o suficiente, que já sabe lidar o suficiente com os seus méritos e deméritos, você pensa que já delimitou a parte que lhe cabe no latifúndio, que já sabe o que as pessoas esperam de você, que... porra! Você pensa que é seguir, se aperfeiçoando um tiqueinho aqui, um tiquinho ali... Você só tem 32 anos, mas você pensa - cacete! - que já viveu o pouquinho suficiente para dali para frente, só ir repetindo os ciclos e roteiros, apenas mudando um pouquinho as cores das tintas.

Mas aí... o que a vida, aquela safada, faz...?

Ela dá um riso de canto de boca, sentindo uma satisfação meio sádica.

Ela joga, como uma bigorna, no meio da sua cabeça, uma situação que você nunca imaginou viver. Junto vem uma leva de sentimentos que você nunca soube que ia sentir. E você, que gosta de velar suas emoções, sente uma certa tontura, porque é tudo novo demais! É tudo virgem. Parece que você acabou de nascer.

- Eu não vou dar conta! - você pensa uma, duas, cinco, doe vezes.
- Eu não vou dar conta! - você grita, desesperada.
- Eu não vou dar conta! - você chora, babando, em pânico, doida para fugir correndo.

Você quer correr de volta para o lugar de sempre.
Para os confortos e desconfortos que você já havia decorado, de tão conhecidos e repetidos e revividos. 

Mas você não foge...

Porque a vida lhe tinha outros planos...

Agradeça.

Eu sei... há o medo de se perder diante do espelho.
Há o medo de sucumbir e morrer.

Pois então se perca! morra!

Que depois virá sua próxima vida.

E viver vale sempre a pena.