segunda-feira

Quando ela apareceu eu estava a fim de outro cara. Quer dizer, "outro cara" não, porque ela não é um cara... E ele era só um sujeito que eu havia conhecido numa festa e que rendeu alguns encontros. Quando ela apareceu, o cara estava viajando. Tinha me mandado um e-mail fofo, falando que meu nome era lindo e coisa e tal, e que eu era interessante e coisa e tal, e que estava com saudades e coisa e tal. E eu, carente, mulherzinha, com a Vênus em Câncer, derreti todinha.
Eu havia apresentado um trabalho solo, autoral, de teatro, do meu meu grito feminista.
No dia seguinte fui assistir um outro trabalho, de um grupo de dança do Piauí. Uma conhecida, lésbica, que estava lá, me apresentou uma mulher, com jeito de haribô, me dizendo "Olha! Desde ontem ela só fala do seu trabalho!" Envaidecida, agradeci e voltei pra onde estavam os meus amigos.
Ah! No dia anterior eu também havia transado com uma mulher. Por um misto de carência e interesse. Tinha aberto a porta para um "por que não uma mulher, ora essa!".
Passaram uns dias. A moça que a conhecida lésbica havia me apresentado, me mandou uma mensagem pelo facebook, falando mais uma vez sobre o trabalho.
Passaram mais alguns dias e ela me escreveu novamente. Havia escrito um conto que falava sobre mim. Ela havia me visto passando na rua e escreveu um conto. Achei bacana. Agradeci.
Mais alguns dias.
- Vamos nos encontrar? - me perguntou.
Respondi que sim.
E até ali eu achava que era uma mulher que havia se identificado com o texto de outra mulher e queria conversar sobre isso.
Só passei a desconfiar que poderia ser outra coisa na hora que ela me ofereceu uma carona.
Achei que havia volteios demais.
Então finalmente fui olhar as fotos da tal menina.
"Ok! Se ela quiser me comer, eu topo!"

No dia e hora marcados ela estava lá. Pontualíssima.
Olhos e cabelos enormes. Unhas vermelhas. Uma voz grave . Um cheiro delicioso.
Mal entrei no carro e ela disse: "Não entendi o que aconteceu! Eu vi o seu trabalho e me encantei!"
- Que louca! - pensei. Já gostando daquilo.

Neste primeiro encontro conversamos muito.
Um papo bom, fluido.
No dia seguinte nos encontramos novamente.
No terceiro encontro nós transamos.
O corpo de uma mulher ainda era um terreno novo para mim. Mas foi bom!

Daí eu viajei. E ela disse "eu quero te ver antes da sua viagem". Então me deu uma carona. E trocamos mensagens pelo celular durante os nove dias que estive fora. Na volta nos encontramos exatamente no mesmo dia que cheguei.

Ela era atenciosa, carinhosa, sem pudor de demonstrar seu interesse.

Então foi que o tal moço do começo veio na cidade rapidamente e marcamos de nos ver. Um sexo delicioso. Mas um papo meio chocho. Desempolguei. E me atirei naquela coisa nova, totalmente nova, que estava surgindo com a tal menina.

E começaram enredos novelescos de romance de novela.
Um dia, eu já envolvida e fragilizada (confesso), me encontrei com o cara do começo do texto, num dia que achei que havia levado um toco dela.
Ela soube.
Quis terminar.
Eu apelei.
Começamos a namorar (assim mesmo, frase assumida, "estamos namorando!").

A menina, também novata no lesbianismo, muito mais jovem do que eu pensava (21 anos), muito bonita e de uma independência emocional digna de estudo, colecionava um sem número de romances e de fiés seguidores, de ambos os sexos, apaixonados.
Senti ciúme, senti inveja, senti desejo, e me permiti aflorar tudo isto.

D.R's, brigas feias, os ciúmes, as invejas e as inseguranças de ambas as partes. Mas também um carinho tão doce e divertido, que me fez não querer sair dali. Assumi a relação, apresentei pra família, fiz planos, senti na pele as dificuldades de uma relação homossexual. Convivi e me abri como nunca antes. Sofri um bocado. E fui feliz um bocado também.

Mas o que esperar de dois corpos que não são, em suas essências, bissexuais?
Sentimos falta deles. Dos homens. Menos de seus paus do que das suas energias. Ela reclamava da minha falta dos paparicos de macho, tão acostumada que era em ser uma fêmea com ares de princesinha.
Eu tive crise de identidade. Pois, diante daquela moça-com-cara-de-boneca, daquela moça fetiche aos olhos masculinos, ia sentindo enevoar a minha feminilidade.
E quanto ao nosso sexo...
Foi perdendo satisfação. Que talvez nunca tenha sido absoluta.
Abrimos a relação.
Mas estávamos absolutamente juntas.

Tinha umas coisas lindas, detalhes pequeníssimos, que me vejo agora sentindo saudade uma saudade sem nostalgia.

Acabamos.
Não de uma forma tranquila.
Que vale uma conversa póstuma, para aparar as mágoas.
Vale a pena deixar só o que foi bonito. Apesar das nossas muitas intempéries.
O término, recente, ainda não me deixa claro, o porquê acabou.
Embora, racionalmente, já esteja dito e justificado aqui mesmo neste texto.
Quero sim aparar as arestas. Para não ficar a dor de ser a vilã da história.

Vale seguir em paz.
Depois das belezas e desafios.

Sinto uma ainda suave vontade de chorar.
Quero abracá-la e seguir em paz.
Quero seguir agradecida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parei por aqui para n virar essa menina sem saber o que aconteceu só de ver o seu trabalho
Geminisna é foda
Escreve um livro
Bj
Pussy