quinta-feira

Quando eu era criança eu dizia que iria ter seis filhos.
E eu sempre fui uma boa cuidadora. Dedicada. Delicada com os pequenos. Divertida. Atenta. Aquelas coisas todas que dizem que toda mãe é/tem que ser.
Me voluntariava, por prazer, para cuidar dos primos menores.
Eu sempre tive certeza absoluta que seria mãe.
Até o dia que eu soube que uma das minhas melhores amigas estava grávida. E de todas as mulheres que eu conhecia na face da terra, ela era a que afirmava com mais veemência que não queria filhos.
Neste dia, quando eu soube da notícia, pensei, meio de brincadeira: trocamos.

Há um ano atrás eu estava namorando com um cara que queria MUITO ser pai.
E ele já estava chegando nos cinquenta, ele tinha alguma pressa, embora não fosse um doidivanas.
A irmã desse cara é ginecologista. Então foi ela que me explicou que o ideal é que a primeira gravidez seja até os 35, que depois vai ficando arriscado para a mãe, para o bebê, etc, etc...
Então eu fui juntando o olhinho brilhando do meu então namorado diante da vontade de ter filhos, com os meus quase 32 anos e fui me vendo cada vez mais fora do quadro que eu mesma tinha desenhado para mim. Ok, existia o fator ELE - eu não teria um filho com ele... Mas era mais. Era: EU NÃO QUERO SER MÃE. Pelo menos não já. Não correndo contra o tempo. Não 'agora ou nunca porque o meu prazo de validade está acabando!'.
Não é que eu não queira ser mãe nunca...
Eu acho mesmo que quero. Acho mesmo que vou gostar de ser. Acho mesmo que saberei ser. Acho mesmo que serei feliz sendo.
Mas, veja bem, eu SÓ tenho 32 anos, entende?

As coisas se ajeitam? Mesmo sem grana, sem tempo, sem um pai que seja verdadeiramente companheiro?
Sim, as coisas se ajeitam.
Eu sou um exemplo - sobrevivi.
Custa?
Custa.
E então, é isso...
De repente um monte de amigas minhas, ou mulheres próximas a mim, estão se tornando mães.
Coincidência ou não, são todas mulheres entre 30 e 35 anos.
A maioria absoluta está dentro de relações longas e estáveis (sinal que a moda da produção independente passou?).
E eu não posso negar: a cada notícia, junto com a felicidade misturada com o pânico que se eu sinto, elas devem sentir em proporções monstruosas, surge um "ai!" dentro de mim.
Um medo ridículo de virar uma quarentona solteira e sozinha, cercada de casais de amigos gays e amigas atarefadas com a criação de suas crianças.
É um medo ridículo, eu já admiti.
E eu acho imperdoável quem toma qualquer atitude (casar, ter filhos) não por desejo genuíno, mas por medo do porvir. Não é para ser assim. Não precisa ser assim.

Ou uma criança entra na minha vida perfeitamente encaixada e harmonizada com todo o resto, ou jamais entrará.
E pode ser natural ou adotada.
Do meu lado pode estar um homem ou uma mulher.
Posso até mesmo estar sozinha.

A pressão existe sim, e vejo ela aumentando dentro de mim.
Mas, veja bem, é a coisa mais importante de ser dita aqui:
Tal criança pode nunca vir.

E toda a minha vida ainda terá valido à pena mesmo assim.

2 comentários:

Cláudia Barral disse...

Amiga, com certeza toda a sua vida terá valido a pena, já valeu, porque você é uma criatura linda que sabe fazer valer. Por isso que eu digo que você nunca vai ser uma quarentona, cheia de amigos gays e com amigas atarefadas, não desse jeito que você pintou (medo bobo mesmo), porque o que quer que aconteça com você será lindo, frutífero e delicioso, como é o seu olhar para o mundo, como é você. Te amo.

Lisa Vietra disse...

chorei