Eu lembro exatamente da primeira vez que fui chamada de puta sem me sentir ofendida.
Foi por um amigo. Gay. Que ao se referir a mim como uma puta, estava me elogiando. Era uma demonstração de admiração. Ao me chamar - sorrindo, leve, divertido - de puta, ele estava deixando claro para mim as transformações que estavam ocorrendo na minha vida. Naquele dia em que, pela primeira vez, eu fui chamada de puta e eu gostei, tive um rasgo de consciência.
Eu não faço sexo por dinheiro. Nunca fiz. Acredito que nunca irei fazer - minha profissão é outra.
E, no sentido estrito, puta é apenas uma prostituta.
No sentido simbólico (sempre mais significativo), tudo relaciodado à vida sexual de uma mulher pode ser ofensivo.
É a nossa lógica binária, presente em cada coisa que tocamos e criamos.
Neste caso funciona assim: homens exacerbam, mulheres se reprimem.
Minha alminha nervosa nunca conseguiu entender a serventia disto...
Desde a primeira vez que eu fui chamada de puta e eu gostei, venho usado tal palavra como auto-elogio.
Eu sou uma puta.
Muita gente nunca vai entender como posso afirmar isto.
E eu não preciso tentar explicar para quem nunca vai entender.
Eu sou uma puta porque as putas vão de encontro ao que está determinado como ideal feminino - e eu acredito na liberdade sem dramas de cada pessoa poder dizer o que é ideal para si mesma.
Eu sou uma puta porque os corpos das mulheres nunca foram considerados sendo delas mesmas - está aí Adão e sua costela que virou Eva, que não me deixa mentir.
Eu sou uma puta porque eu sou uma pessoa sexualizada - como é natural que as pessoas sejam.
Eu sou uma puta porque a minha libido não me constrange.
Eu sou uma puta porque a minha vida só me diz respeito.
Eu sou uma puta porque não sinto culpa.
Eu Sou o que Eu Sou.
E vou defender a desconstrução da ofensa universal ao sexo feminino pelo tempo que me apetecer.
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