quinta-feira

Sobre como ser chamada de puta de tornou música para os meus ouvidos.


Eu lembro exatamente da primeira vez que fui chamada de puta sem me sentir ofendida.
Foi por um amigo. Gay. Que ao se referir a mim como uma puta, estava me elogiando. Era uma demonstração de admiração. Ao me chamar - sorrindo, leve, divertido - de puta, ele estava deixando claro para mim as transformações que estavam ocorrendo na minha vida. Naquele dia em que, pela primeira vez, eu fui chamada de puta e eu gostei, tive um rasgo de consciência.

Eu não faço sexo por dinheiro. Nunca fiz. Acredito que nunca irei fazer - minha profissão é outra.
E, no sentido estrito, puta é apenas uma prostituta.
No sentido simbólico (sempre mais significativo), tudo relaciodado à vida sexual de uma mulher pode ser ofensivo.
É a nossa lógica binária, presente em cada coisa que tocamos e criamos.
Neste caso funciona assim: homens exacerbam, mulheres se reprimem.
Minha alminha nervosa nunca conseguiu entender a serventia disto...

Desde a primeira vez que eu fui chamada de puta e eu gostei, venho usado tal palavra como auto-elogio.
Eu sou uma puta.
Muita gente nunca vai entender como posso afirmar isto. 
E eu não preciso tentar explicar para quem nunca vai entender. 

Eu sou uma puta porque as putas vão de encontro ao que está determinado como ideal feminino - e eu acredito na liberdade sem dramas de cada pessoa poder dizer o que é ideal para si mesma.
Eu sou uma puta porque os corpos das mulheres nunca foram considerados sendo delas mesmas - está aí Adão e sua costela que virou Eva, que não me deixa mentir.
Eu sou uma puta porque eu sou uma pessoa sexualizada - como é natural que as pessoas sejam.
Eu sou uma puta porque a minha libido não me constrange.
Eu sou uma puta porque a minha vida só me diz respeito.
Eu sou uma puta porque não sinto culpa.

Eu Sou o que Eu Sou.

E vou defender a desconstrução da ofensa universal ao sexo feminino pelo tempo que me apetecer.

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