sábado

No dia que eu vim ver esta casa, eu vim com uma amiga. Eu achei que o senhor que havia me mostrado não havia ido com a minha cara. Ele foi abrindo a porta e falando com rispidez: é pequena! Eu olhei e disse: serve! E saí comentando com a minha amiga a falta de gentileza do homem.
- Ele deve ter pensado que a gente era namorada, porra!
Eu sempre me perguntei por que muitas pessoas achavam que eu era lésbica...

Eu dividia apartamento com dois amigos quando vim morar aqui.
Quando comentava com os outros amigos que estava querendo me mudar, a reação era sempre a mesma:
- Aconteceu alguma coisa?!
Não, não tinha acontecido nada. Eu tive com eles uma das convivências mais deliciosas de toda a minha vida. O único problema é que eu PRECISAVA ficar sozinha.
Era uma necessidade tão profunda que eu nem sabia explicar.
Apenas sentia.
Eu tinha que ficar sozinha.
Eu tinha que ficar apenas comigo mesma.
Apenas com os fantasmas que foram se acumulando.
Precisava escutá-los, enfim.
Sem nenhuma distração.

Agora, quatro anos e três meses depois, eu estou me mudando novamente.
Vou voltar a dividir.
Desta vez com mais uma pessoa. Uma amiga.
Na casa de cima tem um casal de amigos meus. Que têm uma filha de 1 ano e três meses.
Vou morar numa espécie de 'comunidade'...

Esta é a minha última noite aqui.

Estou pronta para conviver.

Digo mais: estou pronta para conviver profundamente.

Esta é a minha última noite aqui e eu não vou dormir sozinha.

Eu não preciso mais de solidão.

Depois do meu exílio voluntário, finalmente sou capaz de não me perder, mesmo que esteja no meio de uma  multidão.




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