segunda-feira

- Eu não sei ajudar...

A frase acima foi proferida pelo meu anti-social favorito.
Ele tem oito anos.
E como todo dia no recreio ele conversa comigo, eu fico me sentindo assim... tipo a sua melhor amiga!

Hoje eu não contei história. Hoje eu coloquei eles pra confeccionarem cartazes com as sobras de material da biblioteca, por conta da Semana do Meio Ambiente. Era em equipe, e sob pressão -  porque eu só tenho 30 minutos com cada turma.

Assim que expliquei a atividade e as equipes foram se formando, olhei pra ele. Por puro deleite sádico, de quem perguntaria "e agora, mocinho? tu vai fazer o quê?!"
E no rosto dele se formou um misto de desespero, desamparo, raiva e preguiça.

- Você pode fazer sozinho! - acudi - mais por compaixão do que por pedagogia.

Só que ele acabou se juntando às meninas patricinhas por quem eu já nutrira certo ódio (porque uma delas um dia me mediu de cima a baixo, como uma adulta desagradável, presunçosa e mal educada, por eu ter lhe chamado a atenção), mas que depois de uns sorrisos de um lado e uns beijos na cabeça de outro, havia melhorado bastante a relação.

Dez minutos depois uma delas me solicita, com aquele tom de criança fazendo fuxico:
- Lisa, Tiago 'tá chorando...

- Oxi, Tiago! O que foi?!

Ele queria colar um pedaço troncho de papel crepom azul, todo melecado de cola, no cartaz caprichoso das meninas patricinhas.
Elas não deixaram.
Eles saiu choramingando.
Eu intervi, avaliando que nem no meu cartaz ele colaria aquele negócio grudento:
- É um trabalho em equipe, Tiago. Todo mundo tem que concordar.

- Mas eu queria colar a nuuuvem!
(não, isso não é uma nuvem; isso é uma gosma; e eu vou jogar fora)
{{{pensei-mas-não-falei}}}

- Todo mundo decide junto, e todo mundo ajuda no que for decidido! - eu disse, por fim, me lembrando que aquilo era uma escola, e eu precisava tentar fazer juz à minha função de arte-educadora.

Foi quando ele lacrimejou a frase-fatídica "eunãoseiajudar...", que só não me levou a um ataque histérico de paixão profunda, porque eu tenho que tentar fazer juz à minha função de arte-educadora. 

Eu nunca sei o que responder em situações como essa. Porque a primeira coisa que me vêm à cabeça são soluções que eu daria pra mim mesma. Mas geralmente eu me lembro que à minha frente não está o espelho, mas sim crianças de 01 a 10 anos; e que já que a minha vida não é nenhum exemplo de sucesso, e que eu sou uma  adulta, e que minha mãe não vai pedir satisfação a ninguém se eu contar pra ela uma coisa que eu disse pra mim mesma, decido que talvez não seja muito auspicioso espalhar as minhas técnicas de sobrevivência por aí...

Mas hoje escapuliu, antes d'eu me censurar:

- Da próxima vez você faz sozinho! PRONTO!!!

Alívio geral da nação.
As meninas continuaram brigando pra decidir quem colocava o glitter dourado, Tiago foi futucar os livros, e eu pude ir em paz dar pressa às outras equipes.

Talvez Tiago perceba, um dia, que existem outros caminhos, além de 'sozinho'.
Mas por que tem que ser uma imposição?

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