domingo

- O que você quer?

Nada.

Sou triste, profunda, intensa e macambúzia.

Tudo reverbera em mim com potências mais elevadas. Eu sinto muito. Sempre.

- O que você quer da vida?
- Quero morar em Berlim um dia.

- Mas e os planos até o final do ano?
- Quero ganhar dinheiro trabalhando com o que gosto; quero sentar na frente da TV, com a minha caixa de esmaltes, e pintar as unhas das mãos - e que isso seja um momento de extrema paz. Quero ter disciplina e concentração, para cumprir as minhas tarefas com louvor. Quero que meus cabelos sejam sempre bonitos. Quero, de vez em quando, sentir uma vontade tão intensa e primordial de dançar, que eu saia e dance, de saia rodada, no meio da roda, e que isso seja uma descarga elétrica potencializadora de toda energia produtiva que eu precisar. E que seja só isso, que isso seja em si o que baste. Quero uma casa sempre aconchegante. Quero silêncio. E aroma de incenso. Quero erês, caboclos e pombagiras falando através de mim. Quero rir do mundo, ao invés de me assustar com ele. Quero gostar, com muita tranquilidade, das pessoas - falo das pessoas de uma maneira geral, essas todas aí do mundo. Mas quero amar e cuidar de uma maneira atenta e especial o meu sangue e os meus amigos. Quero uma alegria sem arroubos; e quando o arroubo vier que ele seja um fim em si mesmo. Quero gostar da minha história e louvar minhas memórias.

- Quer mais alguma coisa?

- Posso terminar de responder daqui a pouco?

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